quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Cumplicidade

Semana pós quimio, estou me sentindo novamente muito bem. De volta a vida normal até a próxima sessão. Sinto meus dias de bem estar contados até novamente todos os efeitos e baque da medicação da próxima sessão de quimioterapia. O peso na balança tem subido, por conta dos cortizonas, digo que jajá estarei parecendo o “Shrek”, sem peito, careca e gorda.....rsrs. Bem isso apesar de desconfortável e mexer com a auto estima de qualquer mulher já não tem tanta importância quando o assunto é minha cura. Seria melhor não ter que passar por nada disso, mas se tudo nessa nossa vida temos o lado bom e o ruim do negócio, o lado ruim nesse meu caso são esses efeitos físicos, virar um Shrek, melhor talvez uma Fiona...rs. Brincadeiras a parte, agradeço a Deus por estar nesse momento  “Shrek”, e ter a oportunidade de tratamento em busca da minha cura, pior seria estar linda, mas com os dias contados. Tudo isso é passageiro, logo terei de volta a minha identidade e também estarei muito mais fortalecida e agradecida pela oportunidade de tamanha experiência e aprendizado, disso tenho certeza.



                 Renata e Fernanda, em um momento de CUMPLICIDADE,
             obrigado minhas queridas por fazerem parte da minha vida.

Deus se mostra para mim de várias formas. Em várias situações, tenho tido essa prova. Uma delas é a CUMPLICIDADE das pessoas, amigos, marido, filhos, família. Acima minhas queridas amigas em um desses momentos de cumplicidade, todas de lenços. Deus e suas perfeições.

sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Duelo

Semana difícil. Esses efeitos colaterais da medicação da quimio são físicos e emocionais. A verdade é uma briga, um duelo: Marcele X Efeitos, é assim que sinto. Tento sempre ser mais forte, as vezes consigo, outras não. Físico e emocionalmente falando. Uma batalha dura, a vontade de me entregar é muito tentadora, já que a força física muitas vezes não acompanham a minha vontade emocional. Mas mais tentadora ainda é a vontade de estar viva, e nesses duelos na grande maioria das vezes a vitória é minha. Entendo também que a gente na vida em qualquer situação nem sempre podemos ganhar, ensino isso as minha filhas. Perder faz parte do aprendizado. Neste caso aceito as minhas perdas, mas com tanto que os ganhos neste momento prevaleçam.

                         "Eu já pensei seriamente nisso, mas 
                                         nunca me levei realmente a sério.
                                      É que tem mais chão nos meus olhos
                                         do que cansaço nas minhas pernas,
                                      mais esperança nos meus passos
                                         do que tristeza nos meus ombros,
                                      mais estrada no meu coração do que
                                              medo na minha cabeça."
                                                  Cora Coralina


Um acontecimento...
Essa semana na escola da minha pequena Tainá aconteceu um evento, apresentação de um trabalho. Ela como sempre pediu para que eu fosse prestigiá-la. Com todo cuidado e maturidade adquirida pelos acontecimentos em nossas vidas disse: “Mamãe, você pode ir na minha escola ver meus trabalhinhos, mas gostaria muito que você fosse de lenço na cabeça.” Eu com o coração partido, sentindo que ter uma mãe careca causava algum desconforto a ela, disse: “Claro filha, posso ir de boina ou lenço.” E ela então: “Gostaria que fosse de lenço, pois a boina pode sair da cabeça, o lenço não.” E eu: “Você pode escolher então o lenço que quer que eu use?.”
Fiquei com o coração partido, imagino que não deve estar sendo fácil para a pequena de apenas 5 anos ter uma mãe diferente das mães das outras amiguinhas. E então, uma amiga muito querida, mãe da melhor amiguinha da minha pequena  que também foi ao evento, sabendo da insegurança da Tainá em relação a mãe “careca”, apareceu de lenço também. Eu queria ter tirado foto desse momento, eram somente risos, a pequena então ficou muito a vontade e feliz em ver que a mãe dela não era diferente por causa de ter ou não cabelos. RENATA, esse é o nome da minha querida, grande amiga, que a todo momento me salva de saias justas como estas.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Menina bonita do lenço de chita

Menina Bonita do lenço de chita...rs....você me surpreende a cada gesto e a cada dia. Uma pessoa linda por todos os lados que se possa enxergar e tocar...Te adoro "pessoa" e aqui dessa lonjura te mando todos os dias boas energias...espero que o vento as leve até vc sempre.Vou te colocar uns trechos de um grande autor, o Caio Fernando Abreu que eu amo de paixão e me identifico sempre....bjus mil e força.

"Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe? O verão está ai, haverá sol quase todos os dias, e sempre resta essa coisa chamada "impulso vital". Pois esse impulso às vezes cruel, porque não permite que nenhuma dor insista por muito tempo, te empurrará quem sabe para o sol, para o mar, para uma nova estrada qualquer e, de repente, no meio de uma frase ou de um movimento te supreenderás pensando algo como "estou contente outra vez". Ou simplesmente "continuo", porque já não temos mais idade para, dramaticamente, usarmos palavras grandiloqüentes como "sempre" ou "nunca". Ninguém sabe como, mas aos poucos fomos aprendendo sobre a continuidade da vida, das pessoas e das coisas. Já não tentamos o suicidio nem cometemos gestos tresloucados. Alguns, sim - nós, não. Contidamente, continuamos. E substituimos expressões fatais como "não resistirei" por outras mais mansas, como "sei que vai passar". Esse o nosso jeito de continuar, o mais eficiente e também o mais cômodo, porque não implica em decisões, apenas em paciência.
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Claro que no começo, pouco depois de acordar, olhando à tua volta a paisagem de todo dia, sentirás atravessada não sabes se na garganta ou no peito ou na mente - e não importa - essa coisa que chamarás com cuidado, de "uma ausência". E haverá momentos em que esse osso duro se transformará numa espécie de coroa de arame farpado sobre tua cabeça, em garras, ratoeira e tenazes no teu coração. Atravessarás o dia fazendo coisas como tirar a poeira de livros antigos e velhos discos, como se não houvesse nada mais importante a fazer. E caminharás devagar pela casa, molhando as plantas e abrindo janelas para que sopre esse vento que deve levar embora memórias e cansaços.
Contarás nos dedos os dias que faltam para que termine o ano, não são muitos, pensarás com alívio.

Sua amiga,
Vylna.
                                    " Menina bonita do lenço de chita"

sábado, 16 de outubro de 2010

Sensação

Ontem minha segunda sessão de quimioterapia. Hoje estou me sentindo um pouco nauseada e com um pouco de fraqueza como na primeira. Essa sensação de fraqueza me deixa um pouco sensível, um pouco chorosa. O chuveiro nesses casos é muito bom, nada como um bom banho para lavar a alma e juntamente com as águas as lágrimas se vão. Nesses momentos sinto também uma força incrível de Deus, não sei explicar, só sentir. Só sei dizer que é muito bom, uma sensação de paz, alívio e muita força. O que mais peço nesses momentos é entendimento, paz no coração e muita sabedoria para passar por tudo isso da forma mais tranqüila possível.

Não sei... Se a vida é curta, ou longa demais pra nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido se não tocamos o coração das pessoas. Muitas vezes basta ser: braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia.
E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela, não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura... Enquanto durar.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Dia especial

Hoje foi um dia muito especial. Eu e algumas amigas fomos fazer um dia especial em um orfanato. Estivemos em um lar de meninas, para tornar o dia das crianças mais especial para elas, mas na verdade elas que tornaram nosso dia especial. Sorriso no rosto a cada embalagem de presente aberta, a cada abraço carinhoso, ou ainda mais a cada colinho ganho. Que sensação maravilhosa é a de fazer o bem.
Perguntas inusitadas fizeram também parte desse delicioso passeio, algumas meninas do orfanato me olhavam, até que uma delas perguntou: “Você não tem cabelo tia?”, daí respondi: “Meus cabelos caíram”. E logo, “como?”, eu disse: ”A tia está doente”. Não se contentaram e continuaram: “Mas que doença você tem?”, eu disse: “Cancêr”. Neste momento se assustaram, e logo uma das meninas perguntou: “Que desastre, você vai morrer?”, eu disse: “NÃO”. Neste momento um silêncio e olhos inseguros me olhavam, até que continuei: “Nem tudo está perdido, toda situação por pior que seja temos que ser otimistas e pensar somente que coisas boas acontecerão com a gente. Temos que ter fé e ver o lado bom em todas as situações. Eu acredito que não vou morrer.” Ufa, senti um ar de alivio naqueles pequenos rostinhos tão sofridos. Terminada a conversa, senti que essas foram algumas perguntas que agora surgirão a qualquer momento. Peço a Deus que me de muita sabedoria para que eu tenha a resposta certa para cada uma delas. Quantas mudanças em minha vida e muito aprendizado.


        "Se eu tivesse mais alma para dar, eu daria, isso para mim é viver..."

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Mais uma etapa

Cabelos caindo muito. Achei melhor já resolver e raspar, é muito ruim a sensação de perda, de ver a todo momento os cabelos no travesseiro ou no chão. Ontem acordei e vi um monte deles no meu travesseiro, chamei minhas filhas e perguntei quem queria brincar de cabelereiro, claro que as duas adoraram a idéia. Foi até divertido, a alegria delas em fazer aquela arte, imagina só cortar de verdade o cabelo da mamãe, ficaram eufóricas e curtiram muito a “brincadeira”. Meus cabelos ficaram todo picotado, ai o marido entrou em ação com a máquina de cortar cabelo e raspou para finalizar o serviço. Ao final, Tainá com toda sua cumplicidade, apesar de nítido que não havia aprovado uma mãe careca, mas uma vez me surpreendeu dizendo: “Mamãe, você é mesmo bonita de qualquer jeito”; e Elis minha pequena: “Mamãe, eu cortei seu cabelo, mas não fique triste, se você quiser depois compro outro para você”. Bem, não ficou tão ruim assim, tenho a cabeça redondinha, confesso que achei que poderia ter ficado pior. Eu, o que senti diante de tudo isso?, confesso não ser muito fácil, mas tenho duas opções, me entregar a doença ou enfrentar e encarar tudo isso da forma mais tranqüila possível, decidi desde o inicio pela segunda opção. Enfim sinto até um alivio, mais uma etapa cumprida.
                       Momento de desapego a estética e vaidade, e apego a VIDA!

quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Pré adolescente

Estou me sentindo muito bem. Tentando e conseguindo manter minha vida como ela sempre foi. Essa semana está tranqüilo, graças a Deus nada de médicos e também exames. No post anterior falei da minha filhinha caçula Elis, neste então vou falar um pouquinho da Tainá, minha pré adolescente de 5 anos, ela que se denomina assim, diz que não é mais criança...rs. Tainá é uma menina muito doce e meiga, e uma sensibilidade incrível. Está difícil para ela aceitar que ficarei sem meus cabelos, ela sempre foi muito apegada a eles. A princípio não queria nem tocar no assunto, mas a poucos dias tive uma conversa tentando fazer com que ela entendesse que seria necessário, pedi que ela me ajudasse na escolha de alguns lenços e que se ela quisesse eu poderia fazer um para ela também, e ela se animou. Quando experimentei os lenços percebi nas suas reações que ela não havia gostado, perguntei se ela ia mesmo querer um para ela, mas com toda sensibilidade e naquele momento cumplicidade, disse: “ Acho melhor só você usar mamãe”. Em nenhum momento apesar de nítido que ela não havia aprovado, me disse que não havia gostado. Fiquei muito emocionada, tamanha cumplicidade e entendimento de uma pequena grande menina. E por falar nos cabelos, já começaram a cair, está me dando um apertooooo. Mas se a Tainá com 5 anos entendeu que seria necessário, como não entender?!
Hoje recebi uma frase que fiquei muito emocionada, minha querida sogra me enviou, não gosto muito de falar “sogra”, pois ela para mim é muito mais do que isso.

"Eu nunca disse que seria fácil, apenas disse que valeria a pena"  Nosso pai, mestre, Jesus.

domingo, 3 de outubro de 2010

A cura nas palavras

Dias de descanso para o corpo físico, férias forçadas. A semana foi tranqüila, aproveitei a semana para estar comigo, a minha companhia me bastou. Um momento de descanso físico e oportuno para reflexões. Uns dias mais fáceis outros nem tanto. A primeira quimio foi-se. Mas dessa primeira experiência ficaram algumas descobertas, como por exemplo o valor da minha vida. Coisas do tipo : “ mamãe chega de descansar, de ficar na cama, vamos, levante, venha comigo...”, ou mesmo: “mamãe coma tudinho essa comida, está muito gostosa, você precisa ficar forte...”. Nada demais, senão saíssem da boca de uma criança de 2 anos, minha filha “Elis”. Ao ouvir cada uma dessas frases que até são comuns, pude perceber o valor real da minha vida. Como posso não atender a um pedido desses, minha filha tão pequena e uma grandeza nas suas palavras, era como ouvir: “Vamos, levante, lute, temos uma vida longa ainda pela frente”. Descobri em tudo isso que meu verdadeiro remédio recebo delas em doses homeopáticas a todo momento, com cada gesto, olhar ou palavra. Ganhei mais força com as frases da minha pequena Elis. Minhas filhas são minha vida, minha cura.

                  "Na vida, não existe nada a temer, mas a compreender"   Marie Curie